Esfreguei os olhos, parecia difícil acordar, meu corpo dóia, não me lembrava porque.
Levantei e saí para a rua.As pessoas nem me notavam.
Olhei em volta, o céu cinzento, apesar de não haver nuvens denunciava algo diferente.
O mundo parecia apocalíptico, pessoas caminhando sem olhar umas para as outras, em cada rosto preocupação, desespero e desesperança.
Olhares distantes, vazios, gestos automáticos, como androides programados para cada movimento.
Ar carregado, cheiro de morte, talvez porque não havia vida de verdade naqueles corpos jovens ou velhos que passavam por mim, apenas corações ainda batendo dentro de peitos cansados de sofrer. Cérebros que há muito deixaram de processar coisas ou sentimentos bons, olhos que se voltaram apenas para o negativo, deixando de enxergar qualquer tipo de esperança ou virtude no que quer que fosse.
Terror...Será que dormi e acordei em outro mundo, ou será que sou a única que ainda sonha com algo melhor?
Depois de muito caminhar sentei no meio fio, em uma esquina qualquer do mundo e fiquei ali parada tentando entender.
Não vi sorrisos, nem olhos brilhando.
Não vi casais apaixonados, nem crianças brincando.
Do outro lado da rua então percebi algo como um palanque montado, e de repente lembrei-me...
O carrasco nem cobriu o rosto, subiu até o cadafalso com extremo prazer estampado no rosto, o nome dele era "Humanidade".Executou sua vítima sem dó nem piedade, pois esses sentimentos já haviam sido esquecidos há tempos.
Dos que assistiam o espetáculo macabro, uns poucos sentiram um nó no peito, mas nenhum conseguiu chorar.Abaixaram os olhos e seguiram com suas pobres vidas.
O réu estava morto, o nome dele era "Amor", com ele, de tanto desgosto, morreu sua amiga "Esperança".
Miriam Castilho.