sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Poema derradeiro


Você trás o inferno em suas palavras.

E o coloca dentro de mim.

Você é a foice da morte no acoite do verbo,

O corte da dor na eloqüência da morte.

Você é a falta de misericórdia dos brutos,

A teimosia na discórdia dos imbecis.

Cada gesto que desdiz a palavra que contradiz,

A ignorância que dispensa comentários,

Porque grita o que acredita ser.

Você é o tirano que exige obediência

O senhor que castiga na demência

Você é o arrependimento daquilo que não devia ter sido

O tormento do que não devia ter vingado.

O lado mais podre do que parecia ser bom,

O odor mais fétido ferindo meus sentidos,

O pior monólogo ofendendo meus ouvidos,

Você é um soneto ruim, uma música nefasta,

Você é a pior obra de um artista louco.

Perdeu seu cavalo branco, perdeu sua armadura,

Perdeu seus encantos, perdeu a magia.

Você é o que sobrou de um sonho derradeiro

O último sonho que eu poderia sonhar.

Miriam Castilho

Voando Alto




Voarei a despeito da asa que você quebrou,
voarei para outros horizontes,
longe de ontens ou de amanhãs.
Pousarei em outros ninhos,
que não este o qual tão bem conheço,
e que apesar do apreço, não me acomodou.
Eu, mulher pássaro, ferida, mas viva!
Farei das cinzas um novo ser,um ser alado,
além do bem ou do mal.
Voando para longe das tuas garras monstruosas,
resgatando o sonho de liberdade e vida.
Nem que seja minha última viagem,
como Ícaro em direção ao sol,
perdendo a plumagem,
mas alcançando o ponto mais alto do céu.

MIRIAM CASTILHO