quinta-feira, 10 de abril de 2008

A Última Noite.


Mais uma noite negra, mais uma noite sem ti.
Sombras me rondam, o silêncio me amedronta.
No silêncio ouço sua voz, um sussurro que me invade.
Cheiro de verde me vem à memória, seus olhos de mar...
Olhos que me arrastaram como água traiçoeira.
Deitada em minha alcova vejo teu rosto nos vultos.
Sinto teu cheiro, teu gosto.
A vida se esvai de mim através da dor que sinto em meu peito.
Estraçalhado, meu coração grita por um amor doente.
Sombras negras me envolvem cada vez mais,
nunca amanhece depois que você foi embora.
Toco algo frio ao meu lado.
Uma adaga inerte em meu leito depois de exercer sua função.
Agora me lembro...
Apenas segundos que parecem uma eternidade.
Toco meu seio esquerdo,pelo corte aberto o líquido viscoso escapa
lento e dolorosamente, não a dor física, que há muito foi sobrepujada pela dor da alma, mas a dor de nunca mais tornar a sentí-lo.
Embora saiba que agi certo, pois só assim poderei esquecê-lo,
neste momento a falta de esperança me causa desespero.
De repente um corpo se forma nas sombras, sinto seu toque.
Um terremoto me sacode a alma já pronta para partir.
Será mais uma alucinação? Uma materialização do meu mais profundo desejo?
Mãos gélidas agora me puxam, ouço sua voz.
Dos teus lábios saem urros de dor.
Não é ilusão, você está aqui!
-Porque demoraste meu amor? Porque deixou-me sem resposta entregue à minha sorte?
Em meio a brumas seus lábios se aproximam dos meus, sinto o gosto da morte.
Já não há tempo para nada.
-Demoraste demais meu amor...
Fraca, já não reajo mais.
-Levarei teu beijo como lembrança para os confins da eternidade.
Agora nada sinto,apenas me desdobro pelo cosmos.
Luzes dançam ao meu lado, ouço a música das esferas.
Ainda vejo como num filme meu corpo deitado inerte em meu leito, e você debruçado sobre ele.
-Adeus meu amor, chegaste tarde.
Miriam Castilho

Nenhum comentário:

Postar um comentário