domingo, 5 de outubro de 2008

Acordando para a vida




Alguém ou alguma coisa tentava tirar-me do meu torpor.

Desde o momento que senti meu mundo desabar, logo depois daquela dor no peito, estava assim...
A sensação não era de todo ruim, apesar de não poder me mover também não sentia dor, nada, nem aquela amarga tristeza que me cortava de dentro para fora todos os dias gladiando-se contra a filha-da-puta da esperança que teimava em resistir.
Esperança de tê-lo de volta...
Lutavam os dois sentimentos lá dentro do peito, anjo versus demônio, um a soprar sonhos e a me entupir de falsas promessas, o outro a lembrar-me a todo momento que eu já havia perdido a batalha há muito tempo.
Percebi que neste instante não era nem um nem outro que insistia em me incomodar, acho que enfim tinham desistido de suas picuinhas pessoais e me deixado em paz!
Em paz? Apesar de não sentir nenhuma dor física "aquilo" estava ali, me pegando, me chacoalhando irritantemente.
Podia sentir seus dedos compridos e gélidos nos meus ombros e ouvir sua voz cortante ecoando nos meus tímpanos.
- Acorde! Abra os olhos, vamos!
Engraçado, todos diziam que eu estava jogando minha vida fora, me destruindo a cada dia, e agora havia alguém ali querendo me animar? Que mundo é esse?
Não queria, mas não queria mesmo olhar de frente aquela criatura chata e impertinente, mas era impossível escapar dela.
Comecei a achar que conhecia aquele cheiro, que já tinha sentido aquela presença sombria.
-Vamos, vim te buscar, acorde!
De repente despertei, a criatura não era feia, tinha a face tranquila apesar de fria como mármore, e parecia irritada com minha lerdeza.
Obsevando melhor, reconheci a criatura.
Finalmente percebi o óbvio.

Acordei para descobrir que já estava morta...


MIRIAM CASTILHO

Um comentário:

  1. "Acordei para descobrir que já estava morta..."

    Adorei o conto e principalmente essa frase final.

    Beijos horripilantes!

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